Querente e Vivente
Li recentemente uma reportagem onde constavam as palavras vivente e querente.
Pareceu-me genial e fiquei com as palavras na cabeça, até que procurei no dicionário:
Significado de Vivente
Que vive; que tem vida; vivo: seres viventes.
Pois é. A distância que separa, o querer do viver é o espaço que muitas vezes é tido como impossível.
Enquanto querente, fica-se a imaginar, planejar, devanear, sem levar adiante. Ficar dando voltas e voltas nos pensamentos, entretém, distrai e frustra. Não se completa, nem se realiza. É quase uma prisão. Uma sensação de incompletude, de impossibilidade e falta de competência. Mas a ideia de estar planejando, traz a ilusão de possibilidade. De algo a se realizar.
Estar preso no devaneio, no tecer da hipótese, traz em si a possibilidade e a esperança, de algum momento, estar lá! Lá onde?
Passar de querente para vivente, implica em risco e coragem de apostar em um gesto até então desconhecido. Sair de uma situação confortável, para outra nunca experimentada. Viver plenamente, com riscos, imprevistos. Seguir o coração, ouvir a alma que quer liberdade. Ir para o desconhecido.
Aceitar o não saber, o descontrole. Viver no risco.
Fácil falar, né?
Para que haja um gesto corajoso, é necessária uma certa confiança, nas próprias possibilidades que, em princípio, se constrói ao longo da vida e das relações. Cada um nasce em uma família, num momento histórico e social específico. Uma combinação de experiencias pessoais, respostas do ambiente em que viveu e vive, além dos fatos do dia a dia.
Gosto muito de observar os animais. Tenho uma cachorra, já com 12 anos, mas com disposição de 5. Alegre, cheia de saúde e vida. Continua a pular no sofá, nas camas…mas certos dias, esta mais recolhida e só quer descansar.
Como moramos em apartamento, diariamente, pela manhã, descemos e deixo que ela exerça sua “cachorrice”, cheirando e fazendo o próprio roteiro, além de suas necessidades.
Vejo que ao sair para a rua, olha bem para que lado ir, não gosta de barulhos excessivos. Cuida e respeita o que pode e para onde ir. Alguns dias, nem quer sair de casa. Outros, dirige-se para a porta, feliz em sair. Arrepia-se com certos animais. Outros não. Puro instinto? Experiencia rica…
Humanos tem radar para saber aonde devem ir ou não. Nem sempre o radar está “sintonizado” na mesma frequência. Alguns dias melhor, outros nem tanto. Tem dia até que não funciona! Impossível captar qualquer sinal.
É um desafio, mudar de “querente” para “vivente”. Quando consigo, fico feliz. Observar-nos, para não se perder no querer, e, buscar viver o que nos é dado.
“Quando você sentir que o céu está ficando muito baixo, é só empurrá-lo para cima.”
Ailton Krenak
Até a próxima publicação
Miriam
11 999898686
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