A propriedade de quem sou (A importância das primeiras relações na constituição do humano)
Muitas vezes, em minha prática clinica, chegamos a um impasse: A propriedade de si e a pertinência de existir no mundo.
Mas não no mundo, planeta, mas sim cada um em seu próprio mundo com a individualidade, singularidade e capacidade de existir.
Como assim? Questão complexa, mas possível.
Vivemos em um ambiente onde somos solicitados a todo instante a ser, de uma determinada forma, esbeltos ou poderosos. Atualmente, empoderados! Mas que é isso?
As palavras têm um conteúdo em si, mas se não dermos significado a elas, com nossa presença e particularidade, ficam vazias e incompreensíveis.
Recentemente, viajando, olhava centenas de turistas (eu era mais 1 nesta imenso mar de curiosos), e tentava perceber o significado disso tudo, ate que desisti! Para cada um, a representação dos fatos, pode ser diferente, mas, decidi olhar para dentro e perceber o que se passava comigo, ali, naquele mar de pessoas.
Uma alegria em estar andando em calçadas que existem a mais de 2000 anos, poder sentir o sol na minha pele e o calor do sol que nos traz vitalidade, enfim, a noção de existência dando-me a possibilidade de reconhecer meus sentimentos e sensações.
Mas, sei que posso me sentir existindo, na medida em que tenho inicialmente, significado para alguém e assim perceber que tenho existência.
A percepção de existência, começa no momento em que o bebe, é reconhecido e visto pela mãe, pai ou quem a cuida (vê) ou seja, eu me vejo nos olhos do outro. Existo na medida em que sou visto. O olhar afetuoso é o que vai dando significado a cada existência. Winnicot, psicanalista inglês, chamou esta qualidade de preocupação materna primaria.
A preocupação materna primaria se caracteriza como um estado de verdadeira fusão emocional com seu bebe.
“ Gradualmente esse estado passa a ser uma sensibilidade exacerbada durante e principalmente ao final da gravidez. Sua duração é de algumas semanas após o nascimento do bebe. Dificilmente as mães o recordam depois que o ultrapassaram. Eu daria um passo adiante e diria que a memória das mães a este respeito tendem a ser reprimida. (Winnicott, 1956: 401)
Assim, vou formando minha identidade, como em um espelho, sendo o outro o espelho que reflete e dá significado a minha existência através da maternagem.
O olhar materno amoroso é que vai moldar, atribuir a existência enquanto indivíduo. Sendo a mãe ou seu substituto o interprete de um bebe dependente e sem recursos, inicialmente.
Daí a importância da qualidade das relações inicias, na vida de cada ser humano. É assim que nos formamos enquanto ser, indivíduo humano.
Até o próximo encontro!
Miriam Halpern
Psicologa e psicanalista
mhalperng@gmail.com
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