O Alzheimer nos deixa nus e assustados, exatamente como estávamos no dia em que nascemos.
Sem porto seguro, sem âncoras ou capitão.
É a doença que ri da nossa arrogância e arranca das nossas mãos, as rédeas da Vida, que imaginávamos segurar.
Quando meu pai começou a ficar estranho, como esquecer coisas, pessoas, chegar a casa e deixar o carro com as portas abertas no meio da rua, sair para trabalhar e ficar horas sem ninguém saber onde ele estava etc. Eu comecei a ficar preocupada embora minha mãe dissesse que ele estava estressado e isso era normal.
Aos poucos esse comportamento foi deixando de ser um esporádico e passou a ser constante. Comecei a pesquisar sobre doenças de idosos e encontrei o Alzheimer. Não conhecia ninguém que tivesse passado por isso e resolvi fazer um blog para registrar tudo e talvez, encontrar alguém que se identificasse com a minha história.
Dez anos depois da morte do meu pai, minha mãe começou a apresentar os sintomas, nesse momento comecei a reler o blog para encontrar pistas de como deveria agir.
Tudo nessa doença é assustador. A princípio você não vê nenhum dano físico aparente, a pessoa não tem feridas, lesões, dores… aparentemente é a mesma pessoa que aprendemos a amar e conviver. De repente essa pessoa entra em um mundo completamente diferente do seu, aos poucos vai fechando a porta e a gente fica do lado de fora, vendo esse ser amado ir embora e não podemos fazer nada.
Com o próximo estágio as limitações físicas aparecem e a dependência aumenta. É o momento em que precisamos parar de trabalhar, estudar, passear, fazer feira… tudo isso vai saindo da nossa vida nesse segundo estágio. Eles precisam de cuidados 24 horas por dia porque as complicações motoras já começam e a maioria tem dificuldade para andar, comer, fazer suas necessidades fisiológicas e principalmente perdem qualquer noção de perigo.
Meu pai destruiu toda a sala porque achava que estava pegando fogo, minha mãe deixou o fogão ligado e baixou a tampa, o vidro estourou e ela não percebeu. Esse é o período em que eles não reconhecem o lugar e querem voltar para casa. Meu pai fugiu várias vezes, mamãe não fugiu porque não conseguia andar, mas se arrastava na cama para sair e visitar as irmãs que estavam esperando por ela.
O último estágio é uma descida ao inferno, eles não dormem; intercalam períodos em que comem demais e não comem nada; deliram o tempo todo, alguns ficam violentos e o mais difícil disso tudo é que geralmente só uma pessoa cuida dos pais idosos, e quando chega no terceiro estágio essa pessoa está esgotada, sem vida própria, sem dinheiro, sem condições de ir até a padaria sequer.
O cuidador recebe uma carga muito pesada para carregar, mas quando o cuidador é uma filha essa carga se torna insuportável porque vemos aqueles que amamos morrer aos poucos e não podemos fazer nada.
Somando a tudo isso tem o custo das fraldas, remédios, curativos, médicos, etc. é muito alto e quase impossível de arcar, porque o cuidador/filha não consegue trabalhar e cuidar simultaneamente.
Recomendo os livros
“Alzheimer diário do esquecimento”
“Alzheimer – recolhendo os pedaços
Até o próximo encontro!
Míriam Morata
Arquiteta, formou-se em filosofia, mestre em Ciência da Religião e pós graduada em Arquitetura Sustentável.
Presidente da ONG recriar.com.você, onde faz pesquisa sobre materiais e sistemas construtivos sustentáveis de baixo custo e hortas urbanas.
Escritora dos seguintes livros:
“Alzheimer diário do esquecimento
“Alzheimer – recolhendo os pedaços
Link para comprar os livros (obs. Não distribuímos em livrarias)
https://www.facebook.com/miriammnovaes/photos/a.126999327956023/256429061679715/?type=3&theater
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