Reflexão sobre: ALZHEIMER E AS CONSEQUÊNCIAS PARA O DOENTE E A FAMILA.
Eu sei que a pressão é muito grande, essa doença maldita enlouquece a família inteira e mamãe está à beira de um surto. Voltei para casa imaginando como poderia proteger mais os meus pais, se é que isso é possível. Acho que temos um limite de responsabilidade e, quando não aceitamos isso, a culpa e o medo fazem um estrago muito grande em nosso corpo e alma.
Até
onde eu posso cuidar de alguém ou impedir que esse alguém sofra? ”Miriam Morata
Novaes in Alzheimer diário do esquecimento
Eu ainda não sei a
dimensão exata dos estragos que o Alzheimer faz no corpo e na Alma, durante e
depois que vivemos esse pesadelo.
Os poetas dizem – “construam castelos com as pedras que te atirarem.”, ou “com as penas que a vida me deu, eu construí asas e voei”… Tudo tão bonito, mas eu ainda não consigo construir castelos e nem asas .Às vezes acho que a realidade está um pouco distante da Poesia e da Fé, talvez para nos fazer caminhar em direção a elas, ou quem sabe, realizar essa poesia, com a matéria prima da realidade. Tão difícil!
Se a vida é só um sonho, o Alzheimer é o instante de pesadelo que entra nesse sonho, para nos ensinar algumas coisas que de outra forma, não aprenderíamos.
O que o meu corpo precisava aprender? A abaixar corretamente e levantar peso sem lesionar a coluna, os braço e as pernas? Trocar fraldas e lavar um idoso, sem deixar a pele úmida para não assar? Fazer curativo em escaras? Usar desinfetante, ou amaciante sem perfume, para evitar alergia, ou prejudicar a rinite do idoso? Oferecer água o tempo todo para o paciente, para que não desidrate, mas não se esquecer de também tomar água, pelo mesmo motivo? Será que eu não conseguiria aprender tudo isso, sem tanto sofrimento? O que o meu coração precisava aprender? Não criar expectativas para pessoas, sonhos, ou planos para o próximo instante, sem revolta e frustração ?Viver o agora, sem fantasiar com o futuro, ou me agarrar ao passado de felicidade, mesmo que o agora seja um inferno? Será que tudo isso foi para eu descobrir que amor é mais do que poesia, ou acordo divino para garantirmos um lugar no céu?Amor é exercício pesado, é levantar peso para definir o músculo do coração, para que ele aguente o tranco da vida. Será que eu tinha que aprender a exercitar a impotência e a fragilidade, todas as horas do dia, sem desesperar? Ou todo esse pesadelo só existiu para que eu percebesse que a arrogância e o poder humano são tão patéticos, não resistem a uma célula enlouquecida, ou um gatilho no cérebro que desfaz nossas teorias sobre “tudo”; reduz nossas certezas a nada e ri da nosso medo e espanto?
A morte sempre foi o monstro assustador que assombra o homem; mas durante a vida percebemos que outros fantasmas são muito mais assustadores, o Alzheimer é um deles. Conviver com a morte de um ser amado que ainda respira e abraça é muito mais devastador, do que presenciar o momento em que fecham a tampa do caixão. Onde está a poesia e a fé, nessa realidade tão assustadora? Talvez seja isso que tenhamos que aprender, a criar a Poesia e a Fé nessa realidade assustadora. Para que? Não sei.Miriam tentando entender alguma coisa que dê significado à dor e ao desespero humano. Míriam Morata, trecho de Alzheimer recolhendo os pedaços
Recomendo os livros
“Alzheimer diário do esquecimento”
“Alzheimer – recolhendo os pedaços
Até o próximo encontro!
Míriam Morata
Arquiteta, formou-se em filosofia, mestre em Ciência da Religião e pós graduada em Arquitetura Sustentável.
Presidente da ONG recriar.com.você
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