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O QUE REVELAM NOSSAS MALAS

“A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes; O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos”.Fernando Pessoa – “Livro do Desassossego”

 

Porque será que toda vez que viajo, sempre levo comigo 2/3 de coisas desnecessárias? Sempre mais coisas do que preciso! Alem de serem mais pesadas do que posso carregar.

Alias, o peso deveria ser uma medida do quanto preciso! Começa com a bolsa de remédios, maquiagem, produtos de higiene pessoal. Olho aquilo tudo e me dou conta que não estou indo para o deserto ou floresta selvagem mas o receio de faltar algo, me assalta.

Pensar que se esquecer alguma coisa, posso comprar. Mas mesmo assim, me percebo insegura, temendo esquecer algo importante!

Mas o que é importante verdadeiramente? Tudo o que acredito precisar e nada pode faltar.

Que medo é esse de falta? Falta de que? Que desamparo e que insegurança?

Minhas malas são a expressão dos meus medos e insegurança.

Livros, chinelos, guarda-chuva, roupa de frio, roupa de calor, pois sabe-se lá o que poderá ocorrer durante uma viagem?

Na verdade, acho que tento levar meu mundo comigo e assim sentir-me segura, garantida que não vou passar por falta, ou dificuldade.

 

Tenho medo de não estar equipada se algo acontecer, e tento assim levar tudo, pensar em todos os imprevistos e ficar garantida e a salvo do meu medo em sair do meu mundo. Nada pode faltar.

Ou seja, dentro da minha mala, levo meus receios representados em objetos possíveis de serem transportados e assim, ao invés de um ursinho de pelúcia, conhecido pelo tato e cheiro, como muitas crianças fazem, carrego em minhas malas, os objetos queridos, conhecidos e que nos lembram quem somos e de onde viemos.

E o mais importante, para onde queremos voltar!

Viajar é reconhecer a ausência daquilo tudo que me é familiar e cotidiano. É  lançar – me em uma aventura onde a falta, pode ser presença, afinal, quem não gostaria de levar sua cama e travesseiros?

Ao dar de encontro com um mundo desconhecido, diferente do meu, tenho saudade do meu lugar conhecido, mas também acrescenta ao meu repertorio, experiencias novas, inusitadas. Me enriqueço.

Por isso, partidas e chegadas são instrumentos que nos indicam quem somos, o que amamos e o que é essencial para que a gente continue sendo. E nossas malas, também.

Boa viagem

Miriam Halpern

Psicologa e psicanalista

mhalperng@gmail.com

 

 

Miriam Halpern

Miriam Halpern

Miriam Halpern, Psicóloga, mãe e avó. Hobby preferido, viajar e conhecer o modo de vida de outros países e culturas.
Fiz psicologia, já com os 3 filhos em casa. Fui mãe tempo integral durante 8 anos, ate que, estimulada por problemas domésticos (o filho do meio nasceu
deficiente auditivo), procurei me profissionalizar em escutar e ajudar famílias que passavam pelo mesmo que eu. Desde então não parei de estudar e trabalhar.
Após o curso de psicologia, fiz formação em Psicanálise na Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, instituição ligada a International Psychoanalitical Association de Londres, da qual sou membro efetivo e
docente.
Não satisfeita, fiz mestrado em Distúrbios do Desenvolvimento, na Universidade Mackenzie, pois queria me familiarizar com o Desenvolvimento Humano e nas relações inicias que nos constitui como humanos.
Hoje, mais tranquila, quero dividir minhas experiências, contar e ouvir.

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